Viagem ao Egipto III
Antigo pav ilhão de caça do Quediva Ismael, (quediva é o equivalente a Vice-rei e era o titulo conferido pelos turcos ao paxá do Egipto) , foi restaurado em 1869 para receber os convidados da inauguração do Canal do Suez. A Imperatriz Eugénia de França , o Imperador da Austria-Hungria Francisco José e Alberto Principe de Gales foram dos seus primeiros hóspedes. Situando-se na altura fora da cidade, junto às Piramides,no deserto, foi construida propositadamente a célebre Av das Piramides de 5 km como acesso ao palácio.
Entre os seus hospedes contam-se celebridades como: Sir Winston Churchill, General Montgomery,Presidente Roosevelt, Agha Khan, Rei Umberto, Rei Gustavo, Presidente Nixon e Carter, Henry Kissinger , o Rei Juan Carlos, Charlie Chaplin, Cecil B. DeMille, Robert Taylor, Omar Sharif, Barbara Hutton, Mia Farrow, David Niven, Peter Ustinov e muitos outros.
As negociações de paz entre Israel e o Egipto após a guerra de 1973 tiveram como palco o Mena House.
«Era alta noite quando penetramos no largo pátio do palácio de Ismael-Paxá. Ali reunia-se uma grande multidão em volta das cantadeiras, dos saltimbancos, das almeias e dos improvisadores.
É um pátio imenso – onde as carruagens cruzam como num parque. Em redor corre um longo edifício branco, vulgar e pesado , picado de pequenas janelas. O pátio estava iluminado com fios de lâmpadas e de lanternas, que punham na escuridão longos entrelaçamentos de colares de luz»
Assim que nos aproximámos dos portões um guarda impecavelmente fardado de castanho e boné de policia da mesma cor deu ordens para que estes se abrissem e dois miúdos fardados assim o fizeram .Deu-nos indicações com a braço para seguirmos e aproximámo-nos da entrada do palácio.
Duas palmeiras gigantescas e iluminadas ladeavam a entrada. Branco tal como Eça o tinha descrevido, muito bem iluminado parecia um monumento nacional. A porta rotativa era antecedida de uma entrada ao ar livre em que um gigantesco lustre desafiava a lei da gravidade. Paramos o nosso carrinho e imediatamente um criado vestido com um casaco curto com botões dourados e um gorro de feltro castanho no cimo da cabeça se aproximou e pegou nas nossas malas enquanto outro com galões nos ombros e gorro de feltro um bocadinho maior nos deu as boas vindas e nos acompanhou à recepção.
Cansados e sujos mas bem vestidos eu estava esfomeado. A Paula nunca tem fome.
A recepção era espectacular, o chão de mármore brilhava com o reflexo das luzes amarelas e quentes, um balcão corrido forrado de madeira com o tampo de mármore branco parecia pequeno para o tamanho do espaço, o tecto de madeira ricamente trabalhado era uma obra de arte, uma escadaria com passadeira encarnada subia para os andares superiores, ao fundo via-se o restaurante separado por uma divisória que era uma verdadeira escultura em madeira com recortes arabescos.
O Mena House era constituído realmente de dois hotéis, um o palácio antigo onde estavam os melhores quartos , os restaurantes e o casino e outro moderno , de dois andares circundava o jardim. Era no moderno que nós estávamos .Levaram-nos ao quarto através do jardim tropical acompanhados por uma sinfonia de grilos. Sabia , porque tinha lido, que as pirâmides se avistavam dos jardins e no caminho procurava-as incessantemente olhando para todos os lados. Não as via.
- Desculpe , onde é que estão as pirâmides?
- Ali sir – respondeu-me o empregado apontando para a minha frente.
Mesmo em frente do meu nariz a grande pirâmide erguia-se imponente, tão grande que eu não a tinha visto
Amanhã seria outro dia, o primeiro dia no Cairo a cidade das Mil e uma noites. Íamos lá ficar só duas antes de partirmos para o Sul rumo à aventura