quarta-feira, julho 23, 2008

Viagem ao Egipto II

O avião começou a baixar já era noite, milhares de luzinhas resplandeciam no solo, quilómetros e quilómetros de luzes, os milhões de pessoas que viviam no famoso Delta do Nilo passavam por debaixo de nós. Milhares de anos de civilização passavam debaixo do meu rabo - pensava eu armado em Napoleão . Ninguém aplaudiu a aterragem, não estávamos realmente a chegar a casa. Eric Weiner em «A geografia da felicidade» dá como prova da felicidade dos Islandeses estes baterem palmas quando o avião aterra na Islândia. Os Portugueses também aplaudem quando aterram em Portugal no entanto são considerados um povo infeliz. Paradoxos da felicidade?

Para a fama que tinha o Cairo , no aeroporto, pobre e sujo, estavam poucos aviões. Saímos , carimbaram-nos rapidamente os passaportes e a minha barriga começou a dar voltas - e ainda não comi nada no Egipto, pensei eu


Dirigi-me para uma casa de banho, aflito, acompanhado de um guia, abri a porta e olhei para a retrete nojenta:
Tinha um cano fininho no centro. Não me sentei por causa da porcaria e com medo que aquilo entrasse por onde não devia. -Mas para que é que isto servirá? Só no fim percebi , não havia papel higiénico, era uma retrete dois em um, retrete e bidé. Usei o guia, ainda hoje lhe faltam umas páginas.
Um livro é sempre muito útil. Aprende-se sempre alguma coisa.Com os livros aprende-se mesmo o improvavel.Um tio meu quase que conseguiu aprender a nadar graças a um livro :

«A natação em dez lições» » era o título .

Durante um inverno todos os dias nadava ,sem água, no corredor de sua casa.

Chegou ao Verão e conseguiu boiar.

Tínhamos em Lisboa reservado um quarto no famoso Mena House, ocupado antes de nós pelo Professor Mortimore. Dezasseis contos era a diária com pequeno almoço incluído. O carro tinha também sido alugado na Avis em Lisboa, um Corsa tinha exigido eu.
-Olhe que o Corsa não tem ar condicionado- tinha-me avisado a menina da agencia.
-Não faz mal, a gente abre as janelas.

Procuramos a agência no aeroporto para apresentar o voucher. Ninguém sabia de nada e Corsas não havia. Depois de algum tempo lá conseguimos, com muita sorte, um carro de marca egípcia mas com ar condicionado, pormenor que se viria a revelar fundamental. O empregado egípcio cravou-nos uma boleia para casa, vivia perto das pirâmides e era para lá que nós íamos. Junta-se o útil ao agradável : levamo-lo a casa e ele indica-nos o caminho

-.Para o Egipto em Agosto? Olhe que ninguém vai para o Egipto em Agosto – tinha-nos dito a menina da agencia de viagens.
- Graças a Deus, por isso é que o Mena House é dezassseis contos.

Era perto da meia noite e o calor abrasador, descíamos uma avenida larga e moderna do Cairo, com bandeirinhas e um policia com uma lista encarnada a descer pelas calças em cada poste,mas com muito pouco transito.
-O Sr tem que fechar as janelas e ligar o ar condicionado –ordenava-me o meu pendura.
-É capaz de ter razão –respondi-lhe eu- fechando as janelas e cumprindo as ordens.
-Nós vamos para Luxor , que lhe parece? Acha que é perigoso?
-No problem, no problem.
Ficámos verdadeiramente descansados, era isso que queríamos ouvir.
-O Sr quer que o deixemos aonde?
-Fico à porta do hotel, no problem.
-Mas se quiser podemos leva-lo a algum sitio.
-À porta do hotel, no problem, no problem.

É consensual que a pior maneira de conhecer um país é ficar instalado em bons hotéis, colocam-nos numa redoma, afastam-nos da realidade –dizem . No entanto o Egipto que eu queria conhecer era também o Egipto de Black e Mortimore, o Egipto de Agatha Christie . O filme «A Morte no Nilo» perseguia-me desde adolescência . Fez-me sonhar com o Egipto, podia não ser o Egipto real, mas era o meu Egipto,o Egipto dos meus sonhos, queria voltar a esse Egipto, percorrer os corredores dos seus hotéis, encontrar, quem sabe, Hercule Poirot a desfrutar na esplanada do pôr-do-sol sobre o deserto do Sahara.Não ia à procura da realidade ia à procura de um sonho. Penso mesmo que é para isso que servem as férias.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois, a " Morte no Nilo"...também eu.
E vou em Agosto para o Nilo. Parece-lhe mal?
Ana

3:56 da tarde  

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