domingo, julho 27, 2008

Viagem ao Egipto III


Se há hotéis com história há também hotéis em que a História é feita. O Mena House é um deles.

Antigo pav ilhão de caça do Quediva Ismael, (quediva é o equivalente a Vice-rei e era o titulo conferido pelos turcos ao paxá do Egipto) , foi restaurado em 1869 para receber os convidados da inauguração do Canal do Suez. A Imperatriz Eugénia de França , o Imperador da Austria-Hungria Francisco José e Alberto Principe de Gales foram dos seus primeiros hóspedes. Situando-se na altura fora da cidade, junto às Piramides,no deserto, foi construida propositadamente a célebre Av das Piramides de 5 km como acesso ao palácio.
Parece que estou a ver a Imperatriz, mulher de Napoleão III a sair do Mena House, de carruagem com uma guarda a cavalo, para a festa de inauguração do Canal enfeitada com uma joia, conhecida como "noeud de corsage", com 2.634 diamantes e 2.438 brilhantes que seria confiscado pelos estado à Coroa Francesa. Vendido em 1889 foi recentemente comprado pelo Louvre por 6,72 milhões de euros a um americano. O Estado, seja ele qual for, só faz bons negócios !!!


Entre os seus hospedes contam-se celebridades como: Sir Winston Churchill, General Montgomery,Presidente Roosevelt, Agha Khan, Rei Umberto, Rei Gustavo, Presidente Nixon e Carter, Henry Kissinger , o Rei Juan Carlos, Charlie Chaplin, Cecil B. DeMille, Robert Taylor, Omar Sharif, Barbara Hutton, Mia Farrow, David Niven, Peter Ustinov e muitos outros.
As negociações de paz entre Israel e o Egipto após a guerra de 1973 tiveram como palco o Mena House.
Eça de Queiroz , que esteve na inauguração do Canal do Suez, descreve parte do Mena House, na altura ainda incompleto sem as varandas com vista para as piramides

«Era alta noite quando penetramos no largo pátio do palácio de Ismael-Paxá. Ali reunia-se uma grande multidão em volta das cantadeiras, dos saltimbancos, das almeias e dos improvisadores.
É um pátio imenso – onde as carruagens cruzam como num parque. Em redor corre um longo edifício branco, vulgar e pesado , picado de pequenas janelas. O pátio estava iluminado com fios de lâmpadas e de lanternas, que punham na escuridão longos entrelaçamentos de colares de luz»
Era para lá que eu ia e era lá que estava a chegar . O nosso amigo quis sair uns metros antes do Hotel e assim foi feito.

Assim que nos aproximámos dos portões um guarda impecavelmente fardado de castanho e boné de policia da mesma cor deu ordens para que estes se abrissem e dois miúdos fardados assim o fizeram .Deu-nos indicações com a braço para seguirmos e aproximámo-nos da entrada do palácio.

Duas palmeiras gigantescas e iluminadas ladeavam a entrada. Branco tal como Eça o tinha descrevido, muito bem iluminado parecia um monumento nacional. A porta rotativa era antecedida de uma entrada ao ar livre em que um gigantesco lustre desafiava a lei da gravidade. Paramos o nosso carrinho e imediatamente um criado vestido com um casaco curto com botões dourados e um gorro de feltro castanho no cimo da cabeça se aproximou e pegou nas nossas malas enquanto outro com galões nos ombros e gorro de feltro um bocadinho maior nos deu as boas vindas e nos acompanhou à recepção.
Cansados e sujos mas bem vestidos eu estava esfomeado. A Paula nunca tem fome.

A recepção era espectacular, o chão de mármore brilhava com o reflexo das luzes amarelas e quentes, um balcão corrido forrado de madeira com o tampo de mármore branco parecia pequeno para o tamanho do espaço, o tecto de madeira ricamente trabalhado era uma obra de arte, uma escadaria com passadeira encarnada subia para os andares superiores, ao fundo via-se o restaurante separado por uma divisória que era uma verdadeira escultura em madeira com recortes arabescos.
O Mena House era constituído realmente de dois hotéis, um o palácio antigo onde estavam os melhores quartos , os restaurantes e o casino e outro moderno , de dois andares circundava o jardim. Era no moderno que nós estávamos .Levaram-nos ao quarto através do jardim tropical acompanhados por uma sinfonia de grilos. Sabia , porque tinha lido, que as pirâmides se avistavam dos jardins e no caminho procurava-as incessantemente olhando para todos os lados. Não as via.
- Desculpe , onde é que estão as pirâmides?
- Ali sir – respondeu-me o empregado apontando para a minha frente.
Mesmo em frente do meu nariz a grande pirâmide erguia-se imponente, tão grande que eu não a tinha visto
O quarto era gigantesco, moderno , a cama, fresca, dava para jogar futebol e cheirava a alfazema, a casa de banho forrada de madeira era de um luxo oriental.Da varanda via-se no fundo do jardim o palácio e as pirâmides iluminadas De um dos lados uma enorme piscina quase oval estava iluminada . Tomamos um duche e dirigimo-nos ao restaurante onde éramos os únicos clientes. Dada a hora, perto da uma da manhã, já não serviam refeições. Comemos umas tostas mistas , que vieram acompanhadas de uma salada de tomate e batatas fritas e fomos descansar.

Amanhã seria outro dia, o primeiro dia no Cairo a cidade das Mil e uma noites. Íamos lá ficar só duas antes de partirmos para o Sul rumo à aventura