Memórias
Estamos em 1975 e a noite é quente, ouvem-se os grilos e as acelerações das motas que passam ao longe na Marginal a grande velocidade. Não consigo dormir com o calor e parece que pressinto qualquer coisa. Os meus irmão dormem, a minha mãe também. Tenho treze anos e o meu pai está preso acusado de pertencer a uma associação de malfeitores, preso há largos meses sem julgamento e sem «culpa formada», frase que eu oiço muitas vezes sem saber muito bem o que quer dizer. Uma tia nossa, que tinha fugido para o Brasil, ofereceu-nos o frigorifico nessa tarde e o nosso frigorifico foi oferecido à nossa mulher a dias, a Maria Helena que nunca tinha tido um. Uma carrinha que entrou e outra carrinha que saiu, tráfego anormal para uma casa de família .
A noite passa abrasadora, duas da manhã e oiço o barulho dos motores de camionetas, vou à janela da casa de banho e vejo duas ou três Berlliets cheias de soldados; entram no nosso jardim. Corro a acordar a minha mãe (todo satisfeito com a aventura previsível)
-Mãe, mãe vêm aí soldados. Se calhar é o Copcon…
Ouve-se a campainha: Triiiiimmm trimmmm
A minha mãe veste o roupão e vamos abrir a porta.
-Boa noite minha senhora, viemos fazer uma busca , recebemos uma denuncia que foram transportadas armas desta residência- diz um militar mal fardado, barba por fazer mas educado.
-Disparate…exclama a minha mãe
Deixa-os entrar e dirigem-se para a sala forrada de livros.
-Ummm o Salazar, fascistaaas!!- admira-se um militar com cara de burro enquanto pega nos Discursos do botas
-É pá, mas tá aqui o Lenine, agora é que já não percebo nada…- grita outro de outra ponta com outro livro na mão
As minhas irmãs dormem no quarto delas,
-Aí é quarto das minhas irmãs e elas estão a dormir - digo eu com os meus ameaçadores treze anos
Um abre a porta, vê-as a dormir mas não entra . Dirigem-se para o meu quarto, revistam-no e encontram uma espingarda de caça submarina sem elástico.
-Temos que a apreender…
-É pá deixa lá isso ao puto…
Foram –se embora conforme chegaram, sempre tive azar com os frigoríficos.
A noite passa abrasadora, duas da manhã e oiço o barulho dos motores de camionetas, vou à janela da casa de banho e vejo duas ou três Berlliets cheias de soldados; entram no nosso jardim. Corro a acordar a minha mãe (todo satisfeito com a aventura previsível)
-Mãe, mãe vêm aí soldados. Se calhar é o Copcon…
Ouve-se a campainha: Triiiiimmm trimmmm
A minha mãe veste o roupão e vamos abrir a porta.
-Boa noite minha senhora, viemos fazer uma busca , recebemos uma denuncia que foram transportadas armas desta residência- diz um militar mal fardado, barba por fazer mas educado.
-Disparate…exclama a minha mãe
Deixa-os entrar e dirigem-se para a sala forrada de livros.
-Ummm o Salazar, fascistaaas!!- admira-se um militar com cara de burro enquanto pega nos Discursos do botas
-É pá, mas tá aqui o Lenine, agora é que já não percebo nada…- grita outro de outra ponta com outro livro na mão
As minhas irmãs dormem no quarto delas,
-Aí é quarto das minhas irmãs e elas estão a dormir - digo eu com os meus ameaçadores treze anos
Um abre a porta, vê-as a dormir mas não entra . Dirigem-se para o meu quarto, revistam-no e encontram uma espingarda de caça submarina sem elástico.
-Temos que a apreender…
-É pá deixa lá isso ao puto…
Foram –se embora conforme chegaram, sempre tive azar com os frigoríficos.
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