segunda-feira, março 05, 2007

Memórias

Caro Francisco
No outro dia, arrumando alguma da dessarumação que me povoa a casa, encontrei uma revista evocativa de cartoons da saudosa A Rua.
Tenho apenas 34 anos, mas a Direita, aquela séria e que não se verga, sempre me esteve no patrimonio e na massa.
Pedia-lhe, caso tenha paciência e o dom da partilha, que evocasse alguns momentos da célebre coligação MIRN/PDP-PDC-FN, onde o senhor seu Pai esteve bem activo.
É também ele das memórias gratas de luta e entrega que me restam.

bem haja e forte abraço

Meu Caro

Sem consultar nada nem ninguém e a memoria, como se sabe, atraiçoa-nos muitas vezes, posso contar aquilo de que me lembro.

Estávamos nos tempos da organização da célebre coligação «Aliança Democrática» e o meu pai através da «A Rua» procurava que a Direita tivesse alguma influencia nas politicas do país. Na sua actividade de jornalista encontrava-se regularmente com Lucas Pires e Amaro da Costa (por quem ele tinha uma genuína admiração) Veio então a ideia da «A Rua» apoiar a AD recebendo em troca a inclusão de alguns candidatos a deputados independentes nas listas da dita coligação. Antonio Lopes Ribeiro estava entre eles e o meu pai estava excluído. Em nossa casa, numa noite de Verão, Lucas Pires e a mulher foram lá jantar e ficou combinado o acordo:

Entravam nas listas da AD meia dúzia de personalidades da Direita, se não me engano, em lugares não elegíveis, e em troca «A Rua» apoiava a AD com uma condição:

Não eram candidatos a deputados pela AD desertores.

Aceite a condição ficou selado o acordo com um aperto de mão.

Dias depois a AD deu o dito por não dito. Freitas do Amaral opunha-se, queria Medeiros Ferreira nas listas.

Desapertada a mão, furioso pelo não cumprimento do acordo, o meu pai decidiu encetar os contactos necessários para a formação de uma outra coligação. Juntando-se ao PDC e ao MIRN concorreram às eleições. Milhares de votos foram roubados à AD, alguns deputados a Aliança Democrática perdeu e o meu pai não foi eleito por Lisboa por uma unha negra.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro amigo,

Pedia-lhe o favor de continuar com estas memórias... Estes episódios são bastante importantes para nos compreendermos.
Já pensou em escrever um livro?
Estou certo de que há muita gente para o ajudar na tarefa de reavivar a memória de seu pai e de clarificar alguns equívocos sobre a direita portuguesa.

Um abraço

O Corcunda

3:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Grande Pai, Grande Português, Grande Homem. Parabéns por Ele e por Eles. Não será certamente esquecido pelos verdadeiros portugueses, mas para que isso efectivamente não aconteça em relação a todos os outros (alguns dos que estão e ainda o desconhecem e os vindouros) compete-lhe como Seu Ilustre Filho, se me permite a ousadia, continuar, agora pela escrita, a terrível luta desigual que ele travou em defesa de Portugal e dos portugueses, contra tudo e contra todos, que tanto o fez sofrer abalando-lhe irreversìvelmente a saúde.

Apoio sobremaneira o pedido de O Corcunda, acima. Pense nisso.

Maria

4:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

bem-haja pela partilha.

Rui Santos

5:12 da manhã  

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