Direitos adquiridos e expectativas criadas
Sentado diante de um computador ligeiramente curvado , atrás de um guichet , com as suas lindas barbas brancas , estava o S Pedro. A atmosfera era irreal, uma luz intensa, extremamente branca vinha detrás de um portão que dava acesso a um jardim, trespassava a neblina e formava o próprio chão.
Dezenas de pessoas com um bilhete na mão esperavam a sua vez de ser atendidas. O bilhete era a própria vida. Toda aquela gente tinha morrido e esperavam a sua vez de entrar no Céu.
Quando chegou a sua vez o Luis mostrou o bilhete...
-Ó diaaaabo .... - disse o S Pedro
-Maas há algum problema?-perguntou o Luis com voz trémula
-Não, não há problema nenhum consigo.
-Então posso entrar?
- Não--vai ter que esperar um bocadinho - estavamos a sua espera . Não se importa de ir para aquela casinha que eu já lá vou falar consigo? É que tenho que chamar o S João para me vir substituir - dito isto puxou uma alavanca com o nome S João e uma nuvem saiu de um tubo prateado.
Passada meia hora o S Pedro entrou na casinha onde o Luis em pé estava encostado a uma parede a ler o Economist. Tinha criado o hábito de aproveitar qualquer tempo de espera para ler qualquer coisa.
O S Pedro sentou-se atras de uma enorme secretária apontou para uma cadeira e mandou:
-Sente-se se faz favor.
O Luis , um bocado desnorteado, sentou-se e perguntou :
-Mas afinal o que é que se passa?Não há problema nenhum comigo pois não?
-Não, não não há problema nenhum consigo.O Sr teve uma vida exemplar: cumpriu os mandamentos, ia à missa aos domingos, rezava diáriamente o terço e doava uma parte do seu salário para os pobres . O Sr é um exemplo. Por isso é que foi escolhido.
Toda a incerteza, todo o medo que tinham atravessado a alma do Luis desapareceram completamente. Uma certa vaidade apoderou-se dele. Afinal tinha valido a pena. No meio de tanta gente ele tinha sido escolhido. Nunca tinha tido dúvidas mas... nunca se sabe.
-Mas fui escolhido para quê?-
-Bem...-disse o S Pedro baixando os olhos- esse é que é o problema: sabe é que nós cá no Céu estamos com uma grave crise de espaço.
-Uma grave crise de espaço?
-Sim. uma grave crise de espaço- o sr que é ecomomista concerteza que percebe. Repare isto foi feito para humanidade na altura em que Jesus Cristo nasceu ha dois mil anos Eu proprio ajudei.Na altura eramos poucos como o sr sabe. Agora somos milhões e morremos todos os dias.Não há hipótese não cabemos todos.Este sistema foi criado a contar que as pessoas vivessem um determinado tempo e deixassem um determinado numero de descendentes, pensamos, e a culpa aí foi minha , pois fui eu que fiz as contas (nunca tive grande geito para contas , sabe... o meu negocio era a pesca) que o espaço chegava para sempre Por isso tivemos uma reunião ontem com o Patrão e decidimos ir para obras.Mas enquanto tivermos em obras não podemos deixar entrar toda a gente .E o Sr foi escolhido para ser o primeiro a não entrar no céu.
-Fui escolhido para não entrar no céu?
-É verdade, mas considere isso uma honra.
-Ó Sr S. Pedro mas eu planeei toda a minha vida tendo em vista este momento. Cumpri os Mandamentos. Deixei obra na Terra a defender Cristo e a cultura cristã.Não quer dizer que não tenha feito algumas asneiras, tambem as fiz , mas arrependi-me confessei-me comunguei .Sempre tive a certeza que iria para o Céu, eu tenho direito a ir para o Céu, o Sr não percebe? Eu cumpri os mandamentos, organizei a menha vida toda na espectativa de ir para o Cèu. Não fui eu que fiz as regras, eu cumpri-as para vir para o Céu e agora chego aqui e o Sr diz-me que não vou para o Céu? Não pode ser ... Protesto!!
-Tenha lá calma- eu não lhe disse que não ia para o Céu. Não vai para o Céu é já. Mas vai para o Céu esteja descansado. Tem é que esperar um bocadinho.Eu sei que o Sr vai perceber, porque foi o que o Sr sempre defendeu na Terra. O Sr diz que tem o direito de ir para o Céu e é verdade.Mas repare de que é que lhe vale esse direito se não cabe? «É um bocado como alguém que vai num cruzeiro o navio esta a afundar-se e exige torradas quentes porque o contrato assim o dizia » Não vale a pena estar a refilar .
-Mas pessoas que estavam atras de mim na fila estão a entrar...
-Mas é que eles não iam perceber. Sabe como é que é esta gente não percebe nada de economia...E o sr que é uma pessoa coerente vai perceber, não só vai perceber como já percebeu
-É só enquanto durarem as obras. Nós antes de criar esta lei pesamos as coisas boas e as coisas más. Se não aumentarmos o Céu dentro de pouco tempo ninguém virá para o Céu.O Sr não quer isso pois não?Assim escolhemos os economistas, que sempre defenderam coisas parecidas na terra, para não irem para o Céu enquanto tivermos em obras
-E quanto tempo é que isso demora?
-Sabe que o tempo é relativo. Isto aqui é a eternidade. É rapido: 4 milhões e 500 000 anos.
Fm
1 Comments:
Há o aforismo que a guerra é demasiado séria, para ser decicida por militares. Talvez devessemos criar um semelhante, para a política e os economistas.
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