segunda-feira, outubro 29, 2007

BALADA DA CRISE QUE PASSA

«»»Os portugueses consideram-se sempre demasiado bons para o País que têm. Dos salões às tabernas, a todos os níveis os lusos acham-se acima "deste país". Somos excelentes, mas Portugal não presta e todos protestam. Os cidadãos exigem do Governo, os ministros acusam a oposição, a oposição critica todos. Os jovens culpam os pais por falta de emprego, mas não lhes passa pela cabeça fazer empregos. Todos falam, discutem, sabem a solução. Ninguém assume as responsabilidades ou julga dever reagir. Este é o primeiro inimigo.Se o desemprego é sério, o valor mais discutido é o défice. Isso mostra o segundo obstáculo. É que, além de todos desprezarem a gente, alguns sugam a gente. Toda a gente se acha superior ao País, mas há quem cobre essa superioridade. Grupos de interesse, privilégios instalados, direitos adquiridos, carreiras estabelecidas, corrupção, compadrio, desleixo retiram milhões sem dar quase nada em troca. O segundo inimigo do progresso é pois uma vasta e diversificada classe que recebe da sociedade muito mais do que contribui. Este é o peso morto que atrasa o crescimento.Mas o pior obstáculo é outro. O desemprego e o défice são marcantes, mas o mais nocivo aspecto da situação actual é produzido pela despesa pública. Porque, entre os muitos que sugam o País, alguns estragam o País. O pior da conjuntura é a enorme quantidade de actividades que não só não contribuem em nada para o dinamismo, mas desviam, estragam e atrapalham o dinamismo.O progresso é feito pelas empresas e trabalhadores. Mas um vasto número de responsáveis, hoje mais visíveis e influentes que nunca, servem como travão: impostos, regulamentos, procedimentos, garantias, multas, fiscais, inspectores, eurocratas, incompetências são o pior inimigo do progresso. As razões teóricas desses administrativos são em geral as melhores, da promoção da qualidade e higiene à defesa do ambiente e consumidores. Mas o seu excesso de zelo leva à paralisia e à catástrofe. E, para justificar a sua despesa, o zelo subiu imenso.A resmunguice pedante de todos, o parasitismo das classes ociosas e a paralisia da burocracia são a causa directa da crise. São três vícios velhos dos lusitanos. Mas só dominam de tempos a tempos. Precisamente nos momentos de crise. »
BALADA DA CRISE QUE PASSA
João César das Neves