quinta-feira, novembro 30, 2006

Os homens dos tiros


Não sei se foi o primeiro artigo do meu pai, sei que tinha dezassete anos quando o escreveu, assinou, como assinava antes do meu avô Manuel Múrias morrer, Manuel Moutinho, saiu na «Acção», jornal dirigido pelo meu avô no dia 18 de Outubro de 1945:

«Julgam que regressam!Vêm ufanos, cheios de prosápia, cantando vitória!Deixá-los cantar...
São os coriféus de uma política decadente, retrógada, sem rei nem roque!São os caducos berradores de vivas à Liberdade, de vivas à Républica!São os loucos, cegos voluntáriamente por deformação antiga.
Não se levou a cabo a arrancada de Braga, pelo simples prazer de se juntar mais uma, às dezenas de revoluções feitas para satisfazer as ambições mais comezinhas. O 28 de Maio foi a revolução dos verdadeiros portugueses, dos verdadeiros democratas, olhando somente a dignificação da Pátria ultrajada pela acção corrupta dos homens dos tiros.Ao idealismo estéril e inconsistente, preferiram os homens de Braga o realismo sereno duma política construtiva, optaram ela reforma integral das instituições carunchosas, geradas na balbúrdia sanguinolenta, no insulto soez, no assassinio friamente premeditado, frutos da politica que pretendem os ressuscitados de agora.
Não são necessárias encarnecidas certidões de idade para se ter uma ideia precisa do que foi e nunca mais tornará a ser a governança dos vitoriosos da Rotunda. Eles provaram insuficiencia política, incapacidade governativa - nós somos as vítimas. São os homens dos tiros...sómente!
Em vinte anos sómente se começou a obra, não se chegou sequer a meio da caminhada e se o País confiou até aqui, confiará até mais além para que o sonho se complete, confiará cegamente porque nos esforçámos até ao limite máximo das possibilidades para alcançar a meta ambicionada.
Julgam que regressam os homens dos tiros :- não os deixaremos disparar! »

Manuel Moutinho

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como sempre, no seu pai, uma clarividência de ideias mesmo tão jovem quanto era quando isto escreveu.
Vou lendo tudo o que aqui dele transcrever, pois, como sabe, sou admiradora do seu patriotismo indefectível, da sua inteligência e do seu brilhantismo na escrita. Parabéns Francisco, por mais este artigo do seu pai.

Maria

6:37 da manhã  

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