sexta-feira, maio 19, 2006

O Cinema Mexicano e o racismo

«No plano culural parece que, além- Atlantico, só o Mexico e o Brasil têm verdadeira personalidade, um espírito de nação una que, nem na poderosíssima Norte-America se encontra com tamanha força. Esta, eivada de racismo, de cosmopolitismos brancos, de preconceitos sociais e politicos, intenta ser agora a imagem de uma Europa revolucionária que só tem existencia real há duzentos anos. O México e o Brasil , começando como começamos todos, parecem restaurar a Europa de sempre, colónia da mãe-Roma, herdeira do seu primado espiritual. Por singular coincidencia , o México e o Brasil são as duas únicas nações mestiças da América e que, iniciando agora a sua ascensão nacional, se iniciam misturando-se, misturando as raças, como misturou a Europa Latina, sob o dominio de Roma.
Por isso as explosões nativistas que irrompem tumultuosas tanto no Brasil como no México:-são o final da sintese que amalgama dois conceitos de cultura. Por iso o nacionalismo cinematográfico mexicano, com bastante mais pujança que o brasileiro, deu o duo Fernandez- Figueiroa - e deu Cantiflas.
Emilio Fernandez e Gabriel Figueiroa não têm, todavia, o vigor intelectual de Cantiflas. São anti-europeus: são racistas, de racismo indio;são o que resta de uma civilização absorvida por outra muito mais forte. Não aproveitam nada, a não ser a tecnica, do que lhes veio da Europa. São ateus, semi-pagãos, uns revoltados sem vontade de viver e cheios de ódio, de complexos de inferioridade e vontade de matar. Limitando-se a si mesmos;perderam universalidade. São mais nativistas que nacionalistas,...>

Manuel Maria Múrias - História Breve do Cinema - Editorial Verbo 1962