quinta-feira, abril 20, 2006

Julgamento entre os rios

Entre-os-Rios: Enrocamento de pilar nada resolvia, diz réuUm engenheiro arguido no processo sobre a queda da ponte de Entre-os-Rios disse hoje em tribunal que um enrocamento (protecção com pedra) do pilar P4 não evitaria o colapso, mas não explicou qual seria a alternativa.
Aníbal Santos Ribeiro, que liderava a conservação de pontes na ex-Junta Autónoma de Estradas (JAE), afirmou ao tribunal de Castelo de Paiva que o enrocamento do leito do Douro «não funciona» porque é um rio «de regime rápido e grande caudal».
A afirmação levou a juíza-presidente do colectivo, Teresa Silva, a questioná-lo sobre qual seria a alternativa a adoptar para manter o pilar seguro.
«Sabia qual era a melhor solução. Agora não tenho discernimento para isso», disse o técnico, de 82 anos, que evidenciou problemas auditivos e frequente mente afirmou não se recordar de certos detalhes.
Mais tarde, referiu já que «não havia perigo para a estabilidade do pilar», à luz dos conhecimentos técnicos dominados na segunda metade dos anos 80.
A ponte viria a cair em 4 de Março de 2001, arrastando para o rio Douro um autocarro e três automóveis, num acidente que fez 59 mortos.
Aníbal Soares Ribeiro admitiu ter visionado «uma vez» a filmagem sub-aquática feita ao pilar P4 em 1986, que confirmava a inexistência de qualquer banqueta ou enrocamento protector.
Confirmou que expediu um «despacho de concordância» com a informação que o co-arguido Barreiros Cardoso, então seu subordinado, produziu acerca da filmagem, em que não propunha qualquer obra de consolidação do pilar.
O «despacho de concordância» de Aníbal Soares Ribeiro foi dirigido ao engenheiro Noya Coutinho, à altura responsável máximo pelo serviço de pontes da e x-JAE - um arguido na fase inicial do processo mas que entretanto morreu.
Nesse despacho - disse Aníbal Soares Ribeiro - «não sugeri nada [a Noya Coutinho], pura e simplesmente pus a informação [recebida de Barreiros Cardoso] à sua consideração».
«Da minha parte, não havia nada a fazer. A parte executiva era dele», a firmou, referindo que «era notório» que Noya Coutinho não concordava com o enrocamento e que «achava que a melhor solução» era a construção de uma nova ponte.
Aníbal Soares Ribeiro foi o único arguido ouvido no primeiro dia de julgamento e o seu depoimento ocupou toda a sessão da tarde.
Diário Digital / Lusa
19-04-2006 18:54:00