quinta-feira, janeiro 03, 2008

Não me acho derrotado: — vou continuar

O ambiente é terrível e terríveis são os homens que nos governam. Lei após lei limitam-nos na nossa liberdade, na nossa criatividade, destroem pedra por pedra o País em que nascemos.

A Maçonaria tomou conta de Portugal e não temos Presidente da Republica

Abandonaram-nos à mão dos Nunes, dos Varas e dos Sócrates

Chegou a hora do combate.

Muitas vezes ao longo da historia a loucura durou tempo de mais e fez milhares de vitimas e depois toda a gente perguntou: Como é que foi possível? O que poderíamos fazer?

O que é que podemos fazer?

Seria possível mudar o rumo?

Seria.

É

É possível.

É possível pressionar as Associações Profissionais que estão borradas de medo, é possível fazer alguma coisa dentro dos partidos, é possível escrever, nos blogs, nas paredes, nas retretes, é possível fazer manifestações, é possível termos uma acção concertada.

Eu não quero que as minhas filhas vivam num mundo totalitário deixado por mim.

Temos que fazer tudo o que nos for possível para alterar este rumo

Só se fez tudo quando se ganha. A derrota e psicológica. Só se perde quando se admite a derrota .E por cada derrota está-se mais perto da vitoria.

Vai ser fácil?

Não. Vai ser difícil.

Vão-nos prender, arruinar. Mas cá estaremos e nunca seremos derrotados.

Quem quiser lutar que me escreva.

Se ninguém vier compreendo mas vou sozinho


O que vos prometo foi hoje retirado do Estado Novo

Foi escrito pelo meu Pai:

Eu dormia a bom levar quando, pelas 5,30 horas da manhã de 28 de Setembro de 1974, os intelectuais do COPCON me foram buscar a minha casa em S. João do Estoril. Naquela triste e leda madrugada, empunhando uma lindíssimo mandado de captura e as respectivas espingardas-metralhadoras, um grupinho de militares comboiado pelo polícia de giro, fez-me levantar da cama e, de sopetão, meteu-me num carro paisano e conduziu-me para o então RAL
1. Os meus captores simpaticíssimos (um deles está agora em Custóias...) anunciaram a minha estarrecida que a operação da qual participavam se desenvolvia à escala nacional e que naquela noite, por todo o país, iriam malhar com os ossos na cadeia, muitos bispos e padres, muitos militares e civis, suspeitos, como eu, de pertencerem a uma associação de malfeitores.
Metido no carro particular, sabendo que vários civis (militantes do P.C. mascarados de militares) tinham andado pelas redondezas a prender presumíveis adversários políticos, passou-me pela cabeça que me iam dar um tiro. Rezei o Acto de Contrição, e aconcheguei-me tranquilo a passar o terço pelos dedos. O automóvel seguiu Marginal fora, caminho de Lisboa; foi várias vezes interceptado por eficientes barreirinhas populares e rapidamente chegou a Sacavém.
O dia despontava divertidíssimo. No ex-RAL 1 enfiaram-me numa enfermaria superlotada; antes, porém, alguém bem avisado foi dizendo, ao meu passar, de forma acintosamente audível, que eu era para limpar... Percebi na altura que não morreria nem de medo — nem de parto. O limpador em potência (soube-o depois pelas fotos dos jornais) era o Major eleito Diniz de Almeida...Do RAL 1, onde permaneci umas horas a dormitar, embalaram-me numa ramona para o Reduto Norte do Forte de Caxias onde, logo no átrio, fui soezmente insultado por um anãozinho disfarçado de oficial de marinha. Durante sete longos meses habitei a prisão sinistra. Pelo 11 de Março, para acomodar novos hóspedes, passaram-me para Peniche, a ver o Mar. De Peniche, após poucas semanas enlouquecedoras, devolveram-me a Caxias, para um isolamento terapêutico. De Caxias, para atender à explosão demográfica da população prisional portuguesa, pespegaram comigo na Penitenciária onde vegetei porcamente de 25 de Maio a 3 de Dezembro de 1975. Neste dia, passado ao foro civil pelo qual ansiava, fui ouvido na Polícia Judiciária por um juiz formalíssimo, legalíssimo e educadíssimo e posto em liberdade pelas onze e meia da noite. Tinham passado 14 meses e cinco dias. Louvado seja Deus!Enquanto estive preso perdi (concerteza por descuido meu...) amigos de trinta anos; achei muitos outros das melhores pessoas possíveis e encontrar: — pides, legionários, comunistas, marxistas-leninistas, socialistas, anarquistas, luaristas, monárquicos, republicanos, pobretanas, oficiais do exército e da armada — criminosos de delito comum. Diverti-me e sofri horrores. Joguei desabaladamente o bridge — a vingança dos estúpidos. Aprendi a cozinhar. Fui interrogado acerca de dez vezes. Deram-me encontrões. Apontaram-me pistolas. Uns garotelhos quaisquer ameaçaram-me com horrendas sevícias. Ri-me por dentro e por fora com tudo o que se passava: — se a liberdade e a democracia eram aquilo, eram exactamente o que eu imaginara em muitos anos de compassada meditação política.Admirei gulosamente durante meses alguns raros espécimes de antropóides. Vi morrer homens por incúria, indiferença e covardia. Observei como pouco a pouco, uma pessoa se degrada psiquicamente até parecer um bicho. Eu próprio, a certa altura, possesso de neurose prisional, me rebolei pelo chão a gritar enraivecido, tomado de desespero. Tive inefáveis momentos de paz e tranquilidade. Em escuras noites de insónia e terror, voltei-me todo para mim e encontrei-me com Deus, vislumbrando ao longe reservas imensas de Fé, Esperança e Caridade.Fiz greves de fome. Encarei a morte nos olhos espavoridos de quem me julgou a morrer. Amei apaixonadamente a vida, a minha mulher e os meus filhos. Li pachorrentamente Marcel Proust, inconmensurável teia de intrigas, merdices e gulodices que a pederastia institucionalizada consagrou universalmente. Readmirei Proudhon, Bakunine, Kropotkine e Max Stirner. Respassei o olho por cima de Marx. Chorei impotente a destruição da Pátria. Desprezei. Revoltei-me. Envergonhei-me desta minha biológica condição de português rectangularizado. Em pesadelos torvos o cortejo dos mortos deixados assassinar em África e na Oceânia, angolano e moçambicanos, presos comigo pelo único crime de quererem ser portugueses. Orgulhei-me deles. Os meus carcereiros deram-me tempo para reformular com pausa muitas ideias políticas.Não perdi um dia. Mais — ganhei todos os que vivi. Não me acho derrotado: — vou continuar.(Publicado na Revista Resistência)

4 Comments:

Blogger Marcos Pinho de Escobar said...

Francisco:
Julgo ser infinita a falta que seu Pai faz a Portugal. Através deste texto que desconhecia, com os olhos húmidos, fui transportado à época fatídica. Aproximamo-nos do fim dos tempos e alguma reacção há-de surgir.
Um abraço.

1:45 da tarde  
Blogger Abrantes said...

Há-dé surgir sim, euro-ultramarino.
A reacção somos nós.
A reacção do querer; a reacção de quem se assume como reacção.
Manuel Abrantes

9:30 da manhã  
Blogger Francisco Múrias said...

Essa reacçao somos NOS.

Como diria Afonso de Albuquerque:

Como muitos Padre Nossos e muitas Aves Marias vamo-nos a eles.

A ELES nao as leis, as teorias,

A ELES!!!

Ja chega de ladrar.

E preciso começar a morder

9:30 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Grande artigo, Grandíssimo Pai. Ter tido um Pai da dimensão humana e patriótica do seu, é não só um enorme orgulho, como uma benção de Deus. A época de homens valorosos como o seu Pai, já passou. Melhor, ainda existem alguns, o Francisco será concerteza um deles, mas olhe que há poucas excepções senão Portugal não teria chegado ao estado a que chegou. Como foi possível o nosso querido País ser entregue a esta quadrilha de bandidos, é o que me pergunto a todas as horas do dia, de cada dia que passa.
Parabéns pela sua coragem. Quem dera haver muitos portugueses como o Francisco. Portugal estaria hoje diferente.

Maria

6:29 da tarde  

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