segunda-feira, janeiro 07, 2008

Num país vivo seria preso

O sinal está nos números. Declarações firmes, cortes arrojados e protestos ruidosos apregoam que vivemos em abstinência. Mas em quatro anos (de 2005 ao previsto para 2008) a despesa global da administração pública aumentou um total acumulado de 15%, a despesa corrente primária 21%, as receitas fiscais 26%. O défice desceu espremendo a economia.Segundo elemento, a tentação totalitária. Com a maioria absoluta e os resultados das sondagens o atávico apetite dirigista dos socialistas tornou-se irresistível. Os objectivos são meritórios, da luta contra a evasão fiscal, aquecimento global e tabagismo à protecção da cultura, sociedade laica e segurança nas estradas. O resultado é uma intolerável intromissão regulamentar, maníaca inspecção e generalizada desconfiança. Repetem-se as provocações patetas à Igreja e tradição. O Governo sacrifica a liberdade no altar da esterilização. Está abafado viver em Portugal.O símbolo aqui é a homérica entrevista do director da ASAE ao semanário Sol (29/12/2007). Julga-se funcionário zeloso mas é caricatura alimentícia da Gestapo. Embriagado de estatísticas e regulamentação europeia, ignorante da realidade económica e insensível às consequências sociais, ergue-se como bloqueio fundamentalista e arrogante ao progresso e iniciativa empresarial. Num país vivo seria preso. Neste paroxismo boçal já se vê condecorado.Terceiro elemento, a deriva corporativa. Fala-se de compadrios e corrupções, acusa-se a influência surda da Maçonaria. Acima de tudo é palpável o crescente senhorio de uma nomenklatura pós-moderna instalada nos corredores do poder.

João César das Neves
professor universitário

naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

'Ó PORTUGAL HOJE ÉS NEVOEIRO...'