quarta-feira, agosto 23, 2006

EUA Portugal Angola

Textos retirados do trabalho '"Orgulhosamente Sós"? Portugal e os Estados Unidos no início da década de 1960 de Luís Nuno Rodrigues

«De acordo com estas novas directrizes políticas, no início de Março de 1961 são enviadas instruções precisas para o embaixador americano em Lisboa. Elbrick devia encontrar-se com Oliveira Salazar o mais depressa possível e comunicar-lhe que doravante os Estados Unidos iriam alterar a sua política de relativa "tolerância" ou de "neutralidade benevolente" para com o colonialismo português. Nesse sentido, a sua delegação nas Nações Unidas iria ser instruída para votar favoravelmente uma proposta da Libéria no sentido de agendar a questão de Angola para a próxima reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas[22]

«". Tendo em vista esta situação, os americanos desejavam "influenciar Portugal para empreender ajustamentos de vulto nas suas políticas que, tal como presentemente formuladas, nos parecem ser conducentes a problemas muito sérios". Esses ajustamentos consistiam numa série de reformas "imperativas para o progresso político, económico e social de todos os habitantes das províncias africanas portuguesas em direcção à sua completa auto-determinação dentro de um prazo realista". O governo americano estava, porém, consciente da "importância económica das províncias ultramarinas para Portugal" e por isso estava disposto a conceder a Portugal e aos seus territórios uma "importante ajuda" económica[23].
Através desta démarche de Elbrick estava consumada oficialmente a nova política da administração Kennedy em relação a Portugal e às suas colónias. A 15 de Março de 1961 os Estados Unidos avançaram com o ameaçado e votaram favoravelmente uma resolução relativa à política portuguesa em Angola. Apesar da resolução não ter sido adoptada, o posicionamento norte-americano abriu uma crise séria no relacionamento entre as duas nações que tão depressa não seria sanada. No final de Março, quando os efeitos do ataque desencadeado pela União das Populações de Angola (UPA) eram já conhecidos, o embaixador Elbrick comentava desolado para Washington: "Posso apenas desejar que não nos estejamos a precipitar de cabeça para o caos nos territórios ultramarinos portugueses. Não tenho qualquer dúvida que muito do que já aconteceu por lá, em termos de terrorismo, é devido à nossa atitude e tenho receio que vá haver ainda mais derramamento de sangue"[25].
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