sábado, julho 29, 2006

subsídios para um «progrom»

O anti- judaismo é uma constante na história: as perseguições aos judeus constituem, a partir de Jacob, um dos grandes motivos do Velho Testamento.O fenómeno agrava-se no começo da nossa era cristã; atenua-se com a Revolução Francesa, toma de novo aspectos dramáticos no final do seculo XIX , atinge as raias da tragédia durante a II Grande Guerra mundial - e volta a imperar nos dias de hoje. Os judeus são perseguidos desde que a história é história, sob toda a casta de regimes, pelos motivos mais diversos, ao longo dos tempos fora; as perseguições parecem ser sempre um motivo patológico de todas as políticas nacionalizadoras dos estados onde o milinerário hebreu se acha na situação de ser considerado como minoria significativa. O problema judaico é sociológico na sua essência.
A primeira grande perseguição aos judeus deu-se n Egipto durante o reinado de Thouthmosis II (1485-1450 aC) .Tendo governado o Egipto, por intermédio de José durante a opressão de Hyksos(chefes estrangeiros) os judeus, quando os egipcios se libertaram ,sofreram as consequências do seu «colaboracionismo». Tinham- se tornado extremamente numerosos e fortes, e enchido aquela terra - diz a Bíblia; transformaram-nos em escravos - e em escravatura estiveram até lhes surgir Moisés. Daí em diante, opressores ou oprimidos, na Palestina ou na dispersão judaizando-se ou helenizando-se, os judeus têm sido sempre considerados como gente à parte, um quisto social onde quer que estejam, motivo de discórdia e de desordem a acabar em sangue.
Segundo alguns especialistas da matéria a melhor explicação para o anti- judaismo crónico encontra-se no Livro de Ester. Mardoqueu chefe dos judeus na Pérsia, recusou-se a prestar homenagem a Amam, herdeiro do Rei Assuero. O príncipe resolve vingar- se. Vai a Assuero e diz-lhe:
-Há um povo disperso por todas as províncias do Reino; que vive separado; que pratica outras leis e cerimónias; que despreza as tuas ordens. Não é do teu interesse deixar esta gente em sossego. Se te apraz, ordena a sua perda.
A Rainha da Pérsia, porém era Ester, a judía; Assuero desconhecia a nação da esposa; quando chegou o dia do pérsico pógrom, Ester revelou-se ao Rei e quem foi malhar com os ossos no patíbulo foi o perverso Amam. Lê-se na Bíblia:-na cidade de Susa mataram os judeus quinhentos homens, afora os dez filhos de Amam (...) por todas as província do Império, puseram-se os judeus a defender as suas vidas, matando os seus inimigos e perseguidores em grande número que chegaram os mortos a setenta e cinco mil homens (...). No dia 13 do mês de Adar (que é o duodécimo mês do ano judaico) começou a matança em toda a parte e cessou no dia 14 (...). Mardoqueu escreveu todas estas coisas resumindos-se numa carta, mandou-a aos judeus que habitavam em todas as províncias do rei (...) a fim de que no dia 14 e 15 do mês de Adar, passem a ser celebrados todos os anos e para todo o sempre com festas solenes. Ainda hoje se festeja em toda a judiaria a jovial matança.

Vem isto a propósito do espanto que se apossa das gentes todas as vezes que, num pais qualquer, aparece epidémico, um surto de anti-judaísmo. Os judeus consideram-se eles uma casta à parte, exigem para si um tratamento especial. Naturalmente criam atritos com as populações não judaicas. Quase sempre minoritários, são muitas vezes perseguidos. Por motivos religiosos; por motivos étnicos; por razões económicas; com pretextos de ordem social. Fechados em seu ghetto d'alma , pretendem ser e permanecer comunidade adentro da comunidade, os seus próprios juízes, afastarem-se os outros, coexistirem sem conviverem.O sionismo é , principalmente o reconhecimento de tudo isto, a tentativa de precipitar as promessas divinas, de forçar a mão a Deus, a maneira de obviar, internacionalmente, os problemas sociais criados pela existencia (metafísicamente, aliás)de judeus que não querem deixar de o ser.
Antropológicamente os judeus não são uma raça:há judeus chineses amarelinhos e com olhos em bico: há judeus pretíssimos como Samy Davis, rei do music-hall ; judeus loiros e com olhos azuis; há-os iguais a Nasser e ao Princípe Fílipe de Mountbaten, e ao velho Nerhu de ominosa memória. Há judeus semitas e judeus arianos- e até há judeus anti-semitas. Há judeus em todas as latitudes iguais a qualquer homem, tão bons ou tão maus como todo qualquer outro.Não há uma raça judaica.
Os judeus não representam um credo poilítico:- há judeus fascistas e até há nazistas; há judeus comunistas e judeus capitalistas;judeus sionistas e judeus anti-sionistas.Marx era judeu; mas o Barão de Rotschild também o era- porque os judeus, como judeus, não se dissolvendo na sociedade, vão-se marginalizando, ficando de fora lentamente até serem excluidos. Fundamentaram a revolução soviética - e são perseguidos por ela;ajudaram alicerçar a unidade alemã- e foram as suas maiores vítimas.
Há judeus riquíssimos e judeus pobríssimos.Judeus proletários e judeus plutocratas.Há judeus em toda a parte, imíscuidos em todos os cantos, no meio de todos os meios. Um judeu é um judeu - à frente de um banco ou em cima de um tractor.Socialmente distinto- não constitui porém uma classe social.
Linguisticamente, também os judeus não são uma unidade. O hebreu, apesar dos extrordinários e emociantes esforços das universidades israelitas é um língua mais morta do que viva, já incapaz de exprimir sintéticamente a maioria das ideias abstractas do nosso tempo e grande parte dos substantivos.Em Israel o falar dominante é o yeddsh, patois dos ghettos da Europa Central,espécie de pappamiemto feito de vocábulos hebraicos germanizados e de palavras alemãs, húngaras e polacas hebraizadas, liguanjar mestiço sem grande valor literario.O hebreu ficou-se na Bíblia e na Kabala, e em certa poesia neo-hebraica, poesia sinagogal que os judeus espanhois, anteriores a Israel cultivaram (diz-se) brilhantemente .Ao tentar ressuscitar o hebraico os israelitas de Tel-Aviv tentaram ressuscitar uma nação - porque, realmente, ainda hoje, os judeus se não podem considerar uma nação.
Dizem as estatísticasque a maioria dos judeus são agnósticos.Mesmo em Israel. Em Israel mais de 60% da população confessa-se religiosamente indiferente- porque os judeus já não são religião, os herdeiros de Moisés a quem Yavhé leu o Decálogo, os descendentes de Jacob os guardadores da grande aliança. São só judeus, etnia unida pela tradição dos séculos, sem grandes hábitos comuns - e um uso fundamental: - a circuncisão. Aí juntam-se todos. Os homens. Só vendo-os nus os reconhecemos. O judeu manifesta-se ao confessar o seu judaísmo - português ou francês, alemão ou polaco, católico ou protestante, maometano ou budista.
Não há portugueses judeus; mas há judeus portugueses. Não há católicos judeus; mas há judeus católicos. O judeu é quase só uma maneira de ser, uma distinção pessoal, uma sombra que anda com a gente. Num momento crítico a sombra vivifica- se, a distição materializa-se, a maneira de ser é maneira de estar, a existência é essencia. E aí se está à beira do abismo.

Quer tudo isto dizer que na teoria do anti-judaismo o único elemento contante é o judeu. De resto tudo muda. Mudam as religiões - mas os judeus são perseguidos; mudam os regimes - mas os judeus são perseguidos; mudam os sistemas económicos - mas as perseguissões continuam.
Para se ser judeu basta quase só desejar sê-lo - e colocar-se por aí, fora da comunidade nacional. O ghetto é, históricamente uma criação judaica, aproveitada pelo cristianismo para evitar, por um lado, o proselitismo natural duma gente que, teològicamente, se considerava povo de sacerdotes; e, por outro, para obstar as crises cíclicas de ódio popular que se manifestavam por dá cá aquela palha - como é o caso estranhíssimo do terrível progom lisboeta de 1506 em que, por motivos evidentemente fúteis, foram assassinados milhares de judeus. O judeu quer-se voluntáriamente no gehtto para resistir à pressão da sociedade em que se enquistou. Os gehttos foram, durante milénios, por toda a beira do Mediterrâneo, pela Europa fora até aos confins da Rússia, terra de Israel, o pantamar da Promissão. No Egipto e em Babilónia. Durante o Império de Alexandre e depois do Império Romano. Através dos séculos, pelos tempos fora, a cantar a Bíblia, relendo e treslendo o Talmude, obedecendo à Tora, revolvendo-se no Kabala, alimentando-se dos versículos messiânicos, sorvendo até à exaustão os seus sonhos de grandeza metafísica. Todos os anos, há mais de dois mil anos que, na véspera da sua Páscoa, alguns deles psalmodiam de dentro de si própios a gloriosa ameaça - no próximo ano em Jerusalém!... Lachana aba Ierouchala'im - ... E assim negam pertencer ao mundo social que os envolve - e nesse momento preciso fazem recair sobre si o espectro da perseguição. Para se ser judeu basta se querer negar a Cristo.

Manuel Maria Múrias
Publicado na «Política»

2 Comments:

Blogger Prof. Émer Nogueira said...

Rapaz, foi a explicação, na net, mais interessante sobre o porque da perseguição aos judeus...parabéns... add-me no orkut Émer Nogueira. abçs

4:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Me sinto desamparada de um lado não somos aceito,mas também se procuramos a nossa cultura , o nosso idioma, o nosso costumes, nos perdemos neste Brasil varonil. Seu texto me faz refletir sobre o que é ser povo judeu e o que é religião.

2:08 da tarde  

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